POST PRANDIUMV
Homenagem a D. Álvaro Cunqueiro

Era D. Alvaro Cunqueiro e Mora Montenegro um verdadeiro especialista em discursos “post prandium”.

Depois de bem comido e ainda melhor bebido erguia a sua transcendental e pícnica carcasa e debaixo dos seus óculos de miope surgía a luz divina da inspiraçom disonisíaca. E falaba inspiradamente, citando feitos reais e misturándoos com imaginarios, memorando textos clásicos existentes ou inventados, e levava os comensais voando com sua imaximacíon arredor de um realista Mundo Mágíco, fazendo-nos levitar envoltos nas nubes das suas palabras e o recendo do vinho.

Nom vou tratar de imitá-lo, suplantá-lo ou atrever a meter-me nos seus enormes sapatos ou fecunda imaginaçom e facundia verbal pois sería atenado de alevosia, mais si quero lembrar que um enterro sem responsos, elegía ou sermon, non é enterro ni farrapo de gaita, e que todo banquete e comida ceremonial e cunqueirana, sem discurso post-prandium , nom seria umha boa homenagem ao recordó, honra glória e memoria do Gande Mestre da Oratoria que ele foi.

O seu tempo foi o dos últimos oradores, estilo que començou com Demóstenes e Píndaro e acompanhou a história da humanidade, ainda mais nas épocas románticas , para motivar e movimentar, as tropas, as gentes e as masas despóis. Dentro da Galiza, tempo de Eduardo Blanco Amor, profesor de Oratoria e Bós Aires, e políticos emotivos como Castelao, com Otero Pedraio, cargado de prosodia e prosopopeia, como máximo exponhente.

A oratória foi sempre instrumento do pedagogo, a forza na arenga do guerreiro, a arma na prédica do apologeta ou do lamento elegíaco do sacerdote, e a base da comunicazón e convencimento dos políticos.

Pensase que o discurso Post-prandium é un género menor, pois non tem mais motivo que agradecer o anfitrióm, lovar os condumios, e celebrar o excelso mistério de partilhar o pao e o vinho, especies sacramentais, em companhia e amistad, si vos parece pouco ou parvo. Porém, si nos ponhemos transcendentes temos que lembrar que numha “Ultima Cena“, començóu a nossa religíom, ao establecer as suas bases, ritos e regulamentos Jesus num discurso “Post Prandium”. Ahí naceu o Vaticano, a Missa e foi o mais grande e importante discurso jamais pronunciado polo Home.

E na humildade, penso que um bo discurso, nom com o meu, com sua prosodia, entonación e báquica inspiraçom, é dos mais importantes contibutos a um imprescindível feliz finalde umha boa comida.

Saen as palabras em torrente ou cascada, aflora a verborrea, surgen os tropos se, corsés nem ataduras na máxima libertad de expresión, pois como diz o latino, pois tampouco há um bom discurso sem um latinajo: 
“Fecundi Calices quem non fecere disertum”, ou seja, coloquialmente, boas copas, ¿como non va, fazer un discurso?.” A Danza sae da Panza, um dizer popular, e os discurso sae das copas, como o Minho nace en Fonteminha, provincia de Lugo, a pesares das minhas advertencias.

O discurso “post prandium” “a contrarium sensu” també, está estudado como umha das maiores causas das úlceras dispépticas e cortes de digestom, quando há que aguantar um orador, dizer parvadas, inconveniencias, vulgaridades ou bobagems que poden estragar a mais suculenta comida ou delicioso jantar. Nom há condumio ou pitanza que nom poda ser estropiada , estragada por um pelma orador , com um pesado discurso, que acidifica os sucos gástricos e corta a mais prácida digestom.

D. Alvaro Cunqueiro e Mora Montenegro era orador post prandium e tras umha boa comida, colhia um tema e surgia um discurso cautivador, ameno, narrativo-criativo, imaginativo e sobre tudo, mágico. E ajudava, á placidez da digestom como um paseio “animus jocandi” num campo florido, da mao de umha linda damisela.

Eu convidei-no alá polo ano 1973, ja choveu, a Ribadavia para umha cata na Feira do Ribeiro, e os badocos da comissión daquela non lhe deixaron provar o vino, baixo o pretexto de que nom estaba inscrito. E despois fomos a Mineira, onde entre outras cousas, probamos umhas troitas. D. Alvaro, ao comprovar que eram da Piscifactoría do Barbantinho, comentou apenado: “Há cousas as quais ja temos que renunciar…”, e puxo assim um parámetro na gastronomia que fica só na memória, como o teixugo, o urogallo ou pita de monte, o urso ou a becada.

Don Alvaro categorizava-se como Galego de Naçom, que vem de nascimento e segundo Stalin, define-se a Nazóm por Lingoa, Territorio e Cultura. E seguindo falando da peligrosa palabra Cultura, temos que recordar que a Gastronómica é a mais básica, profunda e fundamental, pois e o alimento consitutivo da tribo , fonte da sua especificidade. ¿Que som senóm identidade o nosso Telón de Grelos, ou as empanadas esculpidas nos capiteles sorridentes do Palacio de Gelmírez?. Estamos amasados e nom impunemente, durante séculos com caldo e broa, peixes e mariscos, porco, leite e castanhas, e por isso somos como somos, para bem e para mal. E tamén as fames históricas contribuiron a forxar a nossa identidade, como se atreveu escrever Garcia-Sabel.

Como bem escreveu Brillat-Savarin (1755-1825) na sua Phisiologia do Gosto, “…qualquer país, para ser considerado naçóm, tem que dar valor aos seus productos e a sua culinària, (producto e proceso), e que o destino das nacións depende da maneira com que elas se alimentam”. “Umha Nacóm nasce da conscientizacóm da importancia da sua identidade cultura, da qual a culinária e parte essencial.

Estou preocupado pola Diglóssia, Glotofagia e a Etnolise, a tendencida suicida “in crescendo” da tribo galaica, comendo cousas como as a pizzas em lugar da empanada, e as hamburguesas em vez do bistec com patacas. E bebendo Colas em lugar de vinho. Cavilo preocupado, que estamos atentando gravemente contra a identidade fundamental do galego, e as nossas mitocondrias, gens, e aminoácidos fundamentais, perpianhos constitutivos do ser e “gestalt” galego, se estam retorcendo de raiba dentro de nós, e estám a ser afectados profundamente non só a física, morfologóa dos nossos corpos , quanto a metafísica.

Constatando cambios e perversions no comportamento, estamos deijando ser ser laiantes, nostálgicos, liricos, e sonhadores, e somos mais reclamistas, protestons, rosmóns, pelmas e malhumorados. Baixa a natalidade, cantamos mais en inglés que em galego, temos mais inmigrantes que emigrantes, e os nossos filhos andam com pitanzas exóticas sem cozinhar e em lugar de maçarse com o vino das tavernas, forram-se nos “botellóns alcohólicos”, de cubatas, daiquiris e mojitos.
E penso que D. Alvaro Cunqueiro e Mora Montenegro, na sua grandeza e a semelhança do Mestre de Jorge Manrique, vendo o panorama , daquela “…preferiu consentir en su morir”, melhor que aguantar um mundo de plástico e neóm, com comidas plastificadas, apresuradas e prefabricadas, despedíndose com as palavras de Curros Enriquez no Divino Sainete “..Si este e o mundo que eu fixen, que o demo me leve”.

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José Posada, Secretário Perpétuo da Irmandade dos Vinhos Galegos